quinta-feira, 23 de março de 2017

Capítulo 01 - O convite

A fonte era linda, pareciam Pokémon reais petrificados. Era na forma de um Gyarados que enrolava a cauda em circulo, fechando a base da fonte, enquanto o resto do corpo erguia-se e jorrava água pela larga boca aberta. Sobre o decorrer da cauda, Magikarp jorravam água também pela boca diagonalmente para o centro e pareciam venerar sua evolução. O resto da praça não possuía nada de excêntrico, apenas bancos de madeira, árvores e plantas espalhados por ela, enquanto quatro caminhos de cimento levavam à fonte, no centro. Era a principal “atração” da praça, justamente por ser o diferencial, e era exatamente onde Sophie e Sakka estavam sentadas entre os Magikarps, sobre a cauda do Gyarados.

Como de costume, começaram a fazer diversos truques para impressionar as pessoas que passavam: jogar um considerável jato de água da fonte em um homem de terno apressado para o trabalho sem que ele se molhasse o fez ficar confuso e cair na gargalhada, rendendo-lhes um pouco de dinheiro; queimar a água da fonte com o poder da mente impressionou um bando de crianças sem dinheiro, mas alguns pais deram pela satisfação que foi para elas; Sophie engoliu e cuspiu fogo; alteraram a cor da água da fonte, entre outros truques.

Até que, ao acabar o pequeno Show após algumas horas, satisfeitas com o que haviam conseguido, o homem verdadeiramente impressionado surgiu. Era adulto, mas ainda jovem, seu rosto era bem fino e tinha cabelo negro com um moicano pintado de roxo, usava óculos escuros, trajava uma camisa preta e sem mangas com um Koffing estampado, revelando braços fortes e um pouco malhados, uma bermuda jeans e um colar dourado. Sua pele era bronzeada e ele estava fumando um cigarro.

─ E ai, pequena mágica ─ após revelar sua voz rouca, ele abriu um largo sorriso, tirou o cigarro da boca por alguns instantes e ficou segurando com a mão direita em V.  ─ ouvi falar um pouco de você e vim aqui pessoalmente pra te ver em ação.
─ O que quer comigo? ─ Ela perguntou, franzindo o cenho.

Sakka deu um salto para o colo da garota, que a segurou no ar. Ele apenas calou-se por um instante e voltou seu rosto para a raposa.

─ Que gatinho bonitinho você tem ai... ela que faz?
─ É uma raposa. ─ Sophie continuava séria.

A menina abraçava forte sua companheira. Aquele cara era no mínimo suspeito para ela e o que mais temia naquele instante era perder a única coisa que tinha na vida. Sakka se sentia da mesma forma e se sentiu um pouco mais segura com o aperto da garota.

─ Entendo, vou considerar um sim. ─ Devolveu o cigarro à boca.
─ Por que eu ainda to falando com você?

 Ela deu as costas e se preparou para sair. Queria fugir daquela situação angustiante o mais rápido possível. Se tudo o que poderia perder na vida era sua preciosa Zorua, era melhor deixar de ganhar uma oportunidade do que perder o que tinha, foi assim que pensou.

─ Wooo, calma ai rebeldezinha... ─ ele apenas tocou em seu ombro, sem fazer força para segurá-la ─ tenho uma oferta pra te fazer.
─ Estou ouvindo. ─ respondeu receosa.

Sua cabeça estava confusa. Fugir ou não fugir? Eis a questão. Ao menos pensou que poderia enganá-lo com ilusões ou até realizar ataques diretos para escapar, então escolheu arriscar. Não gosto desse cara, Sophie, a raposa disse via telepatia e unicamente para ela, um pouco nervosa.

─ Boa garota ─ o homem sorriu largo novamente, largando o ombro ─ tenho certeza que iria preferir trabalhar pra mim do que ficar aqui na rua. Posso te dar comida, um lugar pra ficar e o dinheiro que precisar.
─ E o que precisaríamos fazer?
─ Lutar por “nós”. ─ ele gesticulou as aspas ─ Só explico se quiser lutar.

Sakka e Sophie se entreolharam, ainda inseguras de dizer sim ou recusar a proposta. Passaram praticamente a vida inteira morando nas ruas e de certa forma estavam acostumadas, mas dinheiro, moradia e comida eram exatamente o que precisavam no momento. O que não precisavam era ser enganadas por um cara interesseiro que poderia comprometer a vida das duas para sempre.

─ Tudo bem, não precisa responder agora. ─ o homem pausou para liberar a fumaça do cigarro e pôs novamente na boca ─ me encontre naquele bar ali, amanhã, se quiser.

Ele apontou utilizando o cigarro para um lugar mais a frente da praça. As paredes eram marrom claro, uns troços roxos de madeira com forma triangular que ela não fazia ideia do motivo daquilo, uma porta vermelho-escuro com uma pequena janela redonda a uma altura que certamente não alcançaria e uma janela retangular de cada lado da porta, preenchida com vidros verde e marrom, intercalados em forma de losango e que com certeza não era uma combinação bonita. Estava escrito em um letreiro bem sugestivo acima da porta, “BAR DO RAB”. Inclusive, Sophie se perguntou se era o nome verdadeiro do dono e ele estaria destinado a ter um bar, ou se era só um apelido mal feito colocando o nome “Bar” de trás pra frente. A calçada tinha algumas latinhas amassadas e garrafas vazias, que contribuíam para uma fachada não muito bonita ou limpa.

─ Eh... ok, eu acho... ─ Sophie respondeu com certa repugnância pelo ambiente, não conseguindo esconder a aversão estampada em sua face.

[...]

A menina ficou de frente a porta e parou por um instante. Respirou fundo, pegou Sakka no colo e empurrou a porta, dando o primeiro passo para entrar naquele ambiente totalmente novo. Internamente, parecia ainda mais sujo e bagunçado, com um balcão de madeira marrom-escuro a alguns metros à frente onde se encontrava o barman e bancos acolchoados vermelhos ao redor dele Havia mesas e cadeiras de bar espalhadas pelo lugar, o chão era formado por quadrados cinza e paredes verdes.

Cerca de dez homens estavam ali e todos eles voltaram o olhar para a porta. Ela notou que inicialmente olharam para cima e foram abaixando a cabeça até chegar a sua altura. Dois deles, carecas e muito tatuados, levantaram-se e vieram em sua direção. Um era gordo e o outro talvez do mesmo peso que ela.

─ A loja de bonecas é pro outro lado, vá lá com seu gatinho. ─ O gordo falou, enquanto o outro imediatamente riu.
─ Eu vou lá quando tiver dinheiro pra te dar presentes, tudo bem? ─ Sophie retrucou ─ E é uma raposa.

 Enquanto ela apenas sorria ironicamente encarando-o, o magro caia em gargalhada, rindo da cara de seu parceiro.

─ Engole essa, seu trouxa! ─ o magro apontava para a cara dele, que com certeza estava com vontade de sufocar a garganta do rapaz ─  Você tem uma língua bem afiada, hein ─ disse em meio aos risos, voltando-se a garota ─ com boneca ou não, só adultos podem beber e é a única coisa que dá pra fazer aqui. Está perdida?

Ela os ignorou por um instante e procurou com os olhos o cara do moicano de antes. Estava de costas, bebendo no banco do balcão do bar, porém de perfil observando a conversa, sorridente e fumante como sempre, ou melhor, como da mesma forma que estava há um dia. Daquela posição era possível ver um pedaço de seu olho, que se revelava castanho. Quando notou que ela lhe encontrou com o olhar, acenou.

─ Se aquele cara ta fumando, então dá pra fazer mais algumas coisas aqui. ─ Ela apontou para o cara do moicano ─ e relaxa, qualquer lugar sem dono é a minha casa mesmo.
─ Se você diz... ─ o magro abriu os braços ─ então se sinta em casa.

Eles voltaram para seus assentos e Sophie andou em direção ao fumante, chamando atenção de todos os olhares de todas as mesas, nem todos pareciam amigáveis. Alguns tinham curiosidade do por que uma garota daquela estaria ali, outros tinham interesse sobre sua raposa, já outros simpatizaram com a patada que ela deu no homem. No fim, todos voltaram a encher a cara e esqueceram-se dela.

─ Sakka ─ Ela sussurrou para a Zorua em seu colo ─ para de rir tanto na minha cabeça.

Hahahahaha... ah, rum, claro, desculpe. Mas aquela foi boa mesmo. Sakka mal conseguia conter os risos “por fora” e até “por dentro”, escapando por telepatia para Sophie durante a conversa. A garota sentou-se em um banco ao lado do homem, sem conseguir alcançar o chão e balançando as pernas por conta disso. Ele acabava de tirar o cigarro da boca para levar o copo em seu lugar, tomando um gole de cerveja.

─ Você ta com pressa mesmo de morrer é? ─ Sophie apontou para o cigarro e a cerveja. O coitado do moicano, em meio ao gole, quase se engasgou com o riso.

Enquanto isso, ela colocava Zorua sobre o balcão, mas Rab fez cara de reprovação imediatamente.

─ Será que poderia pôr seu gatinho no chão? ─ Disse o homem, enxugando um copo como qualquer clichê do cara que fica no balcão dos bares.

Rab tinha um cabelo negro e liso e praticamente petrificado com gel, penteado para a direita como se uma miltank tivesse lambido e chegava a brilhar; também usava óculos redondos de grau e tinha um curto bigode. Vestia uma espécie de colete abotoado preto por cima de uma blusa branca.

─ É uma raposa. ─ Sophie suspirou e expressou seu sorriso irônico novamente ─ Ah, desculpa, o balcão é tão sujo que nem vi diferença do chão.

 Deu tapinhas nas pernas e Sakka pulou do balcão para ela. O pobre rapaz ao seu lado teve ainda mais dificuldades de respirar, mas conseguiu engolir a cerveja por fim.

─ Ai, Rab, o que tem ai pra crianças? ─ Perguntou, ainda se recompondo das risadas e meio bêbado.
─ Acha que eu vendo danoninho pra um bando de bêbados? ─ semicerrou os olhos por causa do pedido estúpido, enquanto, obviamente, enxugava um copo.
─ Pô, nem um refrigerante? ─ contorceu a boca, fingindo desapontamento ─ Costumam tomar com vodka às vezes.
─ Devo ter algum... ─ Rab revirou os olhos.

O balconista entrou numa sala atrás do balcão, provavelmente algum tipo de depósito.

─ Então ─ se voltou para a garota ─ o que me diz da proposta?
Acertando os detalhes, de acordo. ─ Sakka disse na mente dos dois.

As duas haviam pensado bastante sobre a proposta e decidiram pelo menos ouvir a explicação da situação em que precisariam lutar caso aceitassem.

─ Mas o que... ─ ele piscava rapidamente os olhos, confuso, pois Sophie não havia movido os lábios e nem era a voz dela ─ quem disse isso?

A pequena Zorua deu pequenos saltos e Sophie apontou para ela, orientando-o.

Podemos ser mais discretos assim. Então, qual seu nome? Os sinônimos do narrador pra você já estão acabando.
─ Aqui está ─ Rab surgiu, com um copo de refrigerante em mãos.

Eles notaram a presença de Rab, mas ignoraram completamente por ter chegado em meio a uma pergunta.
─ Meu nome é Levi, qual o de vocês? ─ O do moicano respondeu ─ e tenho certeza que ele ainda não usou sinônimos como “o homem lindo, bonito, estiloso, príncipe de contos de fadas”...
─ Sophie, e eu tenho certeza que ele não vai usar... ─ a garota coçou a nuca.
Sakka. ─ ela também coçou a cabeça com a pata traseira, mas provavelmente era apenas uma coceira sem significado.
─ Eh... ─ Rab estava plantado esperando alguém pegar o copo ─ ah, se virem, vou deixar aqui em cima.
─ Opa, nem te vi Rab ─ Levi disse em tom de zombaria ─ tu não tem nada pra Pokémon também ai não?

Uma veia saltou da testa do barman e ele fechou os olhos, tentando contar até dez mentalmente para se acalmar, sem conseguir. Bateu com as duas mãos no balcão e avançou sobre o rapaz não estiloso, que recuou por reflexo.

─ Por algum acaso, EU TENHO CARA DE ENFERMEIRA E ISSO PARECE UM CENTRO POKÉMON? ─ Gritou para todo o bar ouvir. Todos voltaram os olhares para aquilo.
─ Ehh... ─ ele coçou o queixo, pensando, até ter uma ideia ─ tem quem usa leite nas misturas também, tem ai não?
─ Vou providenciar. ─ Rab retomou a postura e voltou para a sala interior, ainda com os nervos a flor da pele.

Após se decepcionarem por não ter ocorrido nenhuma briga ou algo do tipo, os outros voltaram a encher a cara e esqueceram completamente do ocorrido em segundos.

Quem que te disse que eu tomo leite? ─ protestou Sakka.
─ Gatos não bebem leite? ─ Levi provocou a Zorua.
Eu sou uma raposa. ─ ela revirou os olhos segurando a vontade de mordê-lo, era a quarta vez e sabia que ele tinha feito de propósito ─ E crescidinha já.
─ Nesse caso, eu sugiro que a gente saia daqui antes que ele volte.
─ Também acho ─ Sophie disse em meio ao último gole no refrigerante ─ como ele consegue passar a vida toda limpando copos e isso ainda continua meio sujo?
─ Eu sei lá ─ O vilão dos contos de fadas inclinava a cabeça para trás e dava um último grande gole em sua cerveja ─ Vamos pro nosso lar, podemos acertar direitinho as coisas lá.

Sem nem ter notado direito, elas aceitaram a ir até o “lar” do cara que era suspeito para elas há alguns momentos. De algum modo, ele havia conquistado um pouco da confiança delas com situações um tanto quanto... fora do comum para elas.

─ Espera, não vai pagar? ─ Sophie lembrou.
─ O capítulo já acabou, esqueça isso e vamos.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Capítulo Zero - A pequena Sophie

Defair City sempre foi muito famosa por sua grande feira livre, que movimenta grande parte da economia da cidade. Situada na zona rural de Kunishima, os pequenos agricultores e artesãos das cidades vizinhas costumavam ir até lá para vender seus produtos. Do rico ao pobre, qualquer um que pudesse comprar, vender ou trocar produtos era bem-vindo.

E esta era a oportunidade perfeita para a garotinha Sophie. Tinha aproximadamente oito anos, já havia parado de perder tempo contando isso. Nunca conheceu seu pai, porque ele não quis assumi-la desde a gravidez; sua mãe morreu quando já moravam nas ruas. Tudo o que lhe restou foi a caixa amassada de papelão com alguns furos ao redor, que agora ela carregava em seus braços finos. Sua pele era tão clara a ponto de ser questionável se realmente morava nas ruas, exposta ao sol. Tinha longos e lisos cabelos prateados, que caiam sobre sua testa e quase alcançavam os olhos lilás. Estava descalça e trajava um vestido amarelo com pintinhas laranja e babados brancos na saia, já sujo e um pouco rasgado.

Sophie corria pela calçada sem ligar para o fato de estar sendo estranhada e evitada pelas outras pessoas. Viu um beco discreto, mas não o suficiente para despistar seus olhos atentos. Ela entrou nele, havia apenas uma lixeira ali e foi onde deixou a caixa de papelão que carregava. Bem, não dentro dela, mas ao lado.

─ Fica aqui, vou tentar arranjar algo. ─ Sophie conversava agachada com a caixa.

Ok, ecoou em sua mente. Ela se levantou e correu de volta para a rua. Seguindo na direção da maré de pessoas, chegou até a famosa feira. Inúmeras barracas de roupas, brinquedos, comidas, ferramentas e outras coisas estavam levantadas na rua, os vendedores faziam propaganda de seus produtos e as pessoas passavam observando para todos os lados, parando em alguma que lhe agradava.

Andando um pouco, a garotinha encontrou uma barraca de Berries. Não era muito grande, a base era de madeira e “enladeirada” para expor as frutas, a tenda era listrada de vermelho e branca. O comerciante vendia sorridente seu produto, tinha cabelo preto, calvo, olhos castanhos, um bigode grosso que ficava alisando quase o tempo todo, um tanto acima do peso e uma camisa branca comum. Sophie aproximou-se da barraca e olhou com água na boca para os produtos. Dirigiu seu olhar para o vendedor, que não estava mais sorrindo. “Sorriso falso, atrair eles. Cara ruim.” foi o resumo mental que ela fez sobre o homem a sua frente, pensando em recuar e desistir ao chegar nessa conclusão.

─ O que quer? ─ O homem perguntou, franzindo o cenho e intimidando-a com uma incrível voz grossa.
─ E-eu... quero comer, pode me dar algumas? ─ Ela perguntou com inocência, visivelmente com fome.
─ Saia já daqui sua parasita, ta espantando meus fregueses!

Ele ameaçou bater ao levantar o braço, mas Sophie já estava correndo. Chegou ao beco em que deixou a caixa e sentou-se, ao lado dela.

─ É, achei outro cara ruim.

Então eu posso ajudar? A mesma voz retornou a sua mente.

─ A gente precisa punir ele por ser um cara ruim. ─ A garota olhou com malícia para a “caixa falante”.

Uma pequena raposa cinza-escura saltou da caixa, sorrindo como uma criança tramando alguma travessura para alguém. Era uma Zorua. A garota retribuiu o sorriso ao ver, literalmente como uma criança tramando alguma travessura para alguém.

Então, o que a gente faz? ─ Zorua aparentava falar, mas não abria a boca. Na verdade, se comunicava por telepatia ─ Fingir que você era a filha perdida de algum cara rico, fingir dar dinheiro pra ele, fingir um assalto, fingir que as comidas apodreceram, fingir que a barraca pegou fogo... ─ balançava a cabeça de um lado para o outro a cada alternativa que dizia.
─ Eu tive uma outra ideia, vem!

Levantou-se, colocou a raposa novamente na caixa e correu de volta para a feira, dessa vez levando-a. Explicou o plano no caminho e, ao chegar, deixou o pacote próximo o suficiente para que Zorua pudesse ver e ouvir tudo, por fim se escondeu ao lado da barraca. Quando tudo estava pronto, fez um sinal de positivo com a mão.

O vendedor estava de costas, distraído com algo dentro da barraca, quando uma linda mulher apareceu. Era loira, usava um curtíssimo vestido vermelho-sangue sem nenhum short por baixo, um forte batom nos lábios de mesmo tom e bastante maquiagem, parecia quase uma atriz de cinema.

─ Está ai? ─ Ela dizia, enquanto se sentava sobre o balcão da barraca.
─ O que que-e-e-e-e-e-e-er? ─ Ele se virou com sua cara emburrada, mas quando viu quem lhe chamava começou a gaguejar muito.
─ Sabe... ─ ela começou a aproximar o rosto cada vez mais perto ao vendedor, que ficava proporcionalmente cada vez mais nervoso ─ você não tem nenhuma Berry... especialmente guardadinha para mim não? ─ ela começou a fazer a mão andar em dois dedos pelo balcão, se aproximando também dele ─ eu adoro vendedores, ainda mais com esses bigodes lindos e fofinhos como você, se me entende.

Ele estava paralisado. Sophie estava quase pela vergonha, mas a fome era superior e ela entrou escondida na barraca. Pegou uma caixa de madeira vazia e começou a coletar vários tipos de Berries com ela, tentando ignorar o que a mulher continuava a dizer.

─ Então, eu não sou muito boa de Berries ─ os dedos andantes da mulher já percorriam a barriga do comerciante e o rosto estava cada vez mais próximo do rosto dele ─ pode me ajudar a identificar o gosto do meu batom?

Foi a gota d’água para a garota, estava mais vermelha do que qualquer uma das frutas dali depois disso. Colocou uma última na caixa e saiu por trás da barraca com ela, até a caixa de Zorua, abriu e jogou todas as frutas lá. Segurou-a nos braços novamente e correu a todo vapor dali.

─ S-S-S-S-S-S-S-S-S-Sakka! ─ ela estava completamente trêmula, não pelo roubo, mas pelo que tinha ouvido ─ De onde você tirou essas coisas?!
Ué, de onde tirou o plano?
─ Uma vez me disseram pra fazer assim quando crescesse, mas isso é completamente nojento!
Se acha isso nojento... ─ Sakka fez um olhar malicioso ─ eu fui pra um lugar muito nojento sem querer, uma vez.
─ Nunca, nunca mais mesmo você vai sair sem me avisar, entendeu?!

Ao virar a primeira esquina, quando o vendedor estava prestes a descobrir o gosto do batom da mulher, ela simplesmente sumiu, do nada. Ele ficou apenas de olhos fechados, fazendo biquinho e esperando, enquanto todos se afastavam da barraca dele ao ver isso. Sakka e Sophie voltaram novamente para o mesmo beco e ali mesmo comeram.